Débora Castro
Socióloga (Cientista Social)
Tenho 37 anos, sou formada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), possuo especialização em Liderança e Gestão Organizacional e mais de 10 anos de experiência na área da infância.
Comecei a atuar nesse campo, no início de 2007 ( 1 ano após o nascimento da minha filha), no Programa Escola de Conselhos da UFMS. Aprendi absurdamente com a ajuda dos melhores mestres do país no que concerne a garantia dos direitos da infância e da adolescência. Comecei como estagiária e após formada (2009), fui convidada a co-coordenar os projetos de Formação de Conselheiros Tutelares. Foi uma experiência fantástica, pois era um trabalho simbioso da teoria com a parte prática do dia a dia. Dessa maneira, atuei até o final de 2013, quando por decisão pessoal, mudei para o município de Aquidauana/MS.
Já em 2015 participei de um edital nacional e fui selecionada para atuar como Consultora do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a fim de analisar e implementar uma política unificada de Formação de Conselheiros Tutelares para assim, fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos em âmbito federal. Trabalho esse desenvolvido até o final de 2017.
De 2017 até hoje, migrei para a área empresarial e de auxílio a gestão organizacional, mas sempre com o pezinho na infância: ora na Secretaria Municipal de Educação de Aquidauana; noutra, como instrutora do Projovem pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial); às vezes como voluntária em projetos sociais.
Até que, nesse ano (2023), me deparei com duas situações:
1ª) Estava atendendo uma empresa (sorveteria) na região sul de Campo Grande, um bairro bem movimentado e bem próximo ao centro. Ali vi um menino, devia ter seus 11/12 anos. Um menino bem magrinho, preto, de chinelo, bermuda e camisetas surradas com um pequeno isopor a tira-colo, pendurado nos ombros. Ele era vendedor de picolé. Chegou, entregou o isopor para ter os picolés repostos... Eu já havia terminado meu atendimento à empresa e estava degustando um sorvete. Na minha frente havia uma família: pai, mãe e duas crianças tomando sorvete e sorrindo. Vez ou outra, essas crianças da mesa a frente iam até o playground que havia no cômodo ao lado. O menino preto, vendedor de picolé, de pé, debruçado sobre um freezer olhava para a TV que estava pendurada no alto e passava um filme infantil, eu acho que era Turma da Mônica (a versão nova com seres humanos e não desenhos). Esse menino ficou ali entretido com o filme e as vezes olhava as outras crianças correndo até o playground. Eu conseguia sentir o olhar daquele menino... ele sorria com os olhinhos ao ver as crianças rindo e correndo, também dava umas pequenas gargalhadas com o filme. Mas, eu também sentia a inveja saindo daquele olhar. De repente a moça da sorveteria o chamou, entregou a caixa de isopor cheia e ele saiu olhando para trás... olhando as crianças como quem queria ficar ali, brincando com elas e terminar de assistir o filme. Mas ele não podia, pois aos 11 anos ele tinha a obrigação de vender picolés.
2ª) O caso da menina Sophia, morta aos 2 anos de idade. Eu assistia aos noticiários e ficava indignada. A cada notícia veiculada sobre a ineficiência do Estado diante aquele caso eu me horrorizava. O caso tomou uma proporção tão grande que uma audiência pública foi convocada e eu, mesmo não trabalhando diretamente na área social, queria entender o que havia acontecido com aquela criança. Fui na audiência, porém não tive voz e não tive vez, porque não fazia parte de nenhuma instituição governamental e nem, não governamental. Saí da Câmara de Vereadores desolada e me questionando: qual era a minha parcela de culpa sobre aquele caso!? Eu, como cidadã e depois, com a quantidade de conhecimentos da área que possuía e nada estava fazendo.
Por que aquela cena do menino mexeu tanto comigo? Por que a história da Sophia me deixou triste por tantos dias!? Eu me vi naquele menino, lembrei dos meus 11 anos, quando também tive que começar a trabalhar no período da tarde. E das vezes que via meus vizinhos e amigas fazendo coisas como ballet e morria de vontade, mas meus pais não tinham condições financeiras de me colocar em atividades extra curriculares. Já da Sophia, recordei das inúmeras surras que eu sofri quando criança e que desencadearam em crises de ansiedade. E me lembrei da minha escolha profissional quando escolhi meu curso superior. Escolhi para salvar minha criança, escolhi para salvar outras crianças e recordei do meu propósito de vida: trabalhar em prol da dignidade e respeito que a infância e juventude devem ter para serem adultos íntegros e saudáveis.
"Deus não quis que nascêssemos adultos, ele nos fez primeiro crianças e como tal, com condições peculiares de desenvolvimento que devem ser resguardadas e respeitadas."
A campanha é totalmente orgânica e caso queira me ajudar a divulgar aos amigos e amigas, fique a vontade para baixar o material (posts para redes sociais e vídeos) abaixo ;)

